sábado, 18 de novembro de 2006

O motivo de minha ausência aqui nesse meu espaço se deveu mais a problemas tecnológicos e trâmites burocráticos dessa nossa vida algumas vezes atribulada. Mas aqui estou de volta, buscando nao deixar esse meu lugar único entregue à própria sorte. Já bastam as nossas vidas, que parecem que andam alheias à nós mesmos, largadas como barcos no meio de um oceano, ao sabor dos ventos. Eu sempre tive a certeza do poder das palavras nas pessoas, mostrando a elas verdades que o mundo quase nunca nos mostra de forma clara.

Hoje recebi um email de uma grande amiga minha, especial por sua posição privilegiada na história de vida deste humilde poeta das palavras. Ela lutou pelas minhas poesias, meus versos, buscou mostrar a todos quem conhecia todo o vigor e riqueza de tudo o que escrevo de peito aberto. E assim como minhas palavras redescobertas por ela recentemente a tocaram profundamente de uma maneira que ela própria jurava desconhecer, suas palavras em seu email atiçaram chamas meio adormecidas dentro de mim. A poesia pulsa dentro de mim, vibra constantemente, a cada momento, em cada palavra, cada situação, cada olhar, cada sorriso, cada abraço, cada vivência intensa da qual participo ou me entrego sem medo. Amizades, amores, amigos, amigas, pessoas importantes que me marcam de uma forma especial e fabulosamente mágica.

Stéphanie, tefinha, ou simplesmente stef. Sua forma de enxergar poeticamente o mundo me encanta, ainda mais quando você consegue redescobrir formas, cores e nuances em coisas que outros diriam já estar ultrapassadas, antigas ou datadas. Eu sei que a poesia é atemporal, é única, é fôlego diante de nossa falta de oxigênio nesse mundo de pernas para o ar. Mas o fantástico poder que emana de você é poder desarticular uma pessoa com palavras tão sinceras e cristalinas. Flores em suas mãos, sempre terão o cheiro da primavera, não importa se elas tenham sidos colhidas no ano passado. Cartas antigas, aos seus olhos, sempre terão novidades a acrescentar em sua vida, mesmo que elas tenham sido escritas há alguns outonos atrás. Porque você consegue enxergar a essência, você consegue sentir a vibração da vida ainda viva em tudo, até mesmo em versos escritos num papel amarelado pelo tempo. E eu sei, suas lágrimas irão molhar o papel e você terá a sensação de felicidade invadindo você por conta dessa descoberta.

A sua imaturidade? Agora ela está hermeticamente presa no passado, e você alcança sempre outros níveis pessoais fabulosos. Tenha certeza de que seu sorriso não é mais vazio, seu choro não é mais em vão, e sua vida não está mais sem rumo. Pois você está encontrando os caminhos primorosos que fazem da gente pessoas especiais e que trazem dentro do coração tudo o que existe de mais puro, belo e encantador. O prazer de poder dizer que o mais importante da vida é saber vivê-la, entre nossos erros e acertos. E eu tenho o imenso prazer em poder dizer que, apesar de distanciados nos últimos tempos, ainda somos incríveis, fantásticos e poderosos em nossa amizade sempre eterna.

Stef, tem uma música que nesse momento dedico a você, e estou ouvindo ela nesse momento. Espero que você possa ouvi-la também agora, enquanto estiver lendo esse meu texto. A música se chama Shine On, do novo álbum da banda JET, que também se chama Shine On. É a faixa 8. Escute e preste atenção em sua letra. Com certeza, ela iluminará mais as minhas palavras para você.

Shine On - JET
do álbum Shine On, lançado em outubro 2006

[...]
And if the moon had to runaway

And all the stars didn’t wanna play
Don’t waste the sun on a rainy day
The wind will soon blow it all away

So many times I’d tried
To be much more than who I am
And if I let you down I will follow you ‘round until you understand

That if the moon had to runaway
And all the stars didn’t wanna play
Don’t waste the sun on a rainy day
The wind will soon blow it all away

When the days all seem the same
Don’t feet the cold or wind or rain
Everything will be okay
We will meet again one day
I will shine on, for everyone

[...]

segunda-feira, 28 de agosto de 2006

Se existe uma banda que tem uma aura dark, densa, penetrante e consistente, e que reflete toda uma atmosfera sinistra e melancólica presente em boa parte da década de 80 e início dos anos 90, essa banda se chama Depeche Mode. Muitas de suas músicas exalam um clima sombrio, soturno, e minha adolescência teve em sua trilha sonora algumas músicas marcantes do Depeche Mode. Never Let Me Down Again, Behind The Wheel, além de Strangelove, criaram contornos marcantes em muitos momentos de minha vida, onde eu sofri, chorei, amei, e senti o relativo gosto da felicidade nessa época de nossas vidas. Época de efervecência de sentimentos, sensações, descobertas. E muitas de minhas descobertas em minha vida, eu as fiz no silêncio mais extenso de meus atos, minhas atitudes, a maioria delas movidas pelo coração. E esse silêncio era quebrado sempre pelas minhas conclusões ensurdecedoras e por alguma canção de uma banda que eu começava a curtir na época. Uma dessa bandas foi o Depeche Mode, que acabou se unindo às minhas conclusões ensurdecedoras. Naquela época, eu absorvia o som da banda de uma maneira própria, de acordo com minha idade, meu estado de espírito, minha forma de enxergar o mundo. E ele já se mostrava caótico já naquela época.
O tempo passou, eu cresci, e fui ampliando meus horizontes musicais, e fui deixando algumas bandas que eu ouvia para trás, guardadas apenas naquela época em que tudo para mim parecia amplificadamente mais difícil, complicado, complexo. Deixei de ouvir Depeche Mode, mas nem por isso a banda deixou de seguir seu caminho, lançando seus trabalhos, suas músicas sinistras e melancólicas, e sempre se adequando à épocas e aos estilos musicais reinantes.
Quase 10 anos depois do lançamento de Strangelove, uma das músicas que passearam a trilha sonora de minha vida, aqui estou eu ouvindo novamente Depeche Mode sem medo de me sentir datado, ou ultrapassado. A banda parece que submerge de dentro de mim, busca respirar novamente, depois de tanto tempo esquecida nas profundezas. Comecei ouvindo o novo trabalho da banda lançado esse ano, e que realmente gostei muito: Playing The Angel. E hoje culminou com minha busca insistente pelo show mais recentes deles. Tudo porque li uma notícia essa semana de que em setembro eles estarão lançando o DVD da Tournet de Playing The Angel. Touring the Angel - Live in Milan realmente precisava ser lançado, pois o único registro de show ao vivo do Depeche Mode que eu tenho em minha mente é o do álbum 101, que por sinal é o álbum mais significativo da carreira da banda. Então fui atrás de algo mais, e acabei encontrando Touring The Angel 2006 CD - Live at Bremen Weser Stadion, um show deles na Alemanha. E o que antes era um combustível para a minha adolescência conturbada, hoje se mostra um revigorante para minhas idéias e meu amadurecimento enquanto pessoa. E então percebo que aquele anjo negro que todos temos dentro de nós não desapareceu, apenas está meio adormecido, meio domado, meio dominado, apenas quietinho, nos observando sutilmente. Acredite ou não, eu já tive asas pretas e um céu escuro ao meu redor.

Precious

Angels with silver wings
Shouldn't know suffering
I wish I could take the pain for you.

If God has a masterplan
That only he understands
I hope it's your eyes he's seeing through.

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Anjos com asas prateadas
Não deveriam conhecer o que é sofrer
Quem dera eu pudesse suportar a dor por você

Se Deus tem um plano mestre
Que só ele entenda
Eu espero que seja pelos seus olhos que ele esteja vendo

trecho do música Precious, do álbum
Playing The Angel, lançado em 2006
pelo Depeche Mode

quarta-feira, 23 de agosto de 2006

É fascinante você se descobrir um pouco mais em cada reação positiva sua a determinadas coisas da vida. Amadurecer não é somente aprender com os erros, mas também aprender a se reconhecer em coisas e pessoas que te atraem e te trazem sensações boas. Não é de agora que eu descobri que curto muito rock britânico. Mas a cada banda nova que descubro e ouço, vou realmente tendo cada dia mais certeza de que sinto prazer sonoro em ouvir bandas como Coldplay, Starsailor, e agora mais uma: Snow Patrol. Coincidentemente, a banda lançou agora em maio último seu mais novo trabalho intitulado Eyes Open, por sinal, o 2º CD do grupo. Trilha sonora perfeita para sonhos que tenho, como o que tive hoje à tarde, quando fechei meus olhos para um cochilo, e abri os olhos para um mundo diferente, distante, onde as coisas acontecem mais decididamente, como se não pudesse esperar por decisões nossas. Alguém estava comigo, e eu recebia o carinho dessa pessoa de forma tão surpreendente e fabulosa, que nada mais importou pra mim, a não ser aquele momento dentro do sonho. E esses dois últimos dias se pareceram com meus sonhos, onde resolvi fazer diversas coisas que eu vinha adiando por algum tempo. Decidi ver situações pendentes e acabei fazendo mesmo mais do que eu próprio previa. Primeiro, tirar novos documentos, já que meus antigos me foram roubados. Mesmo considerando o fato de que me sinto absorto numa rotina meio parada, meio acomodada, consigo realmente tomar decisões que definem muitos pontos pendentes de minha vida. No final do dia, até o filtro de minha casa eu estava limpando, retirando a sujeira das velas, e depois fazendo um café revigorante e aproveitando a companhia de meu afilhado aqui em casa. Acho que falta mais disso na pessoas, saber aproveitar algumas horas do dia, não pensar em problemas, abrir os olhos para algum sonho ou devaneio sutil e furtivo, sorrir despreocupadamente, mesmo que no dia seguinte tenha que enfrentar mais problemas. É verdade que muitas parece ser difícil fazer isso, mas depois de muitas tentativas, vai se tornando cada vez mais fácil se desvencilhar dos problemas e buscar alívio, buscar fôlego para continuar seguindo em frente, da melhora maneira possível. Abra os olhos para si mesmo, para que você possa olhar nos meus olhos.

[...]
levante, vá embora, saia de perto desses mentirosos
Porque eles não pegam sua alma ou seu fogo
pegue minha mão, entrelaçe seus dedos entre os meus
E nós sairemos deste quarto escuro pela última vez

Cada minuto a partir deste agora
Podemos fazer o que gostamos em qualquer lugar
Eu quero tanto abrir seus olhos
Porque eu preciso que você olhe nos meus
[...]

Música: Open your eyes
Banda: Snow Patrol
CD: Eyes Open [2006]

terça-feira, 11 de julho de 2006

Meus posts aqui em meu blog são tão esporádicos, que quando retorno aqui, fico impressionado com o que escrevi há algum tempo atrás. Parece que existe uma certa regularidade com que eu venho aqui postar, e escrever algumas linhas. Existe em mim um tempo certo para escrever na medida certa. Cada palavra em seu lugar, cada pensamento em sua linha de raciocínio. A Copa passou, o Brasil perdeu, Roberto Carlos não fez nada para impedir o gol, Felipão levou Portugal a mares nunca dantes navegados, Zidane se despediu do futebol com uma cabeçada infeliz, a Itália chegou onde somente o Brasil já chegou tempos atrás. Mas não sou comentarista de futebol, e nem tenho capacidade para comentar sobre futebol. Prefiro falar sobre outros pormenores poéticos de nossas vidas. Tenho hoje curiosidade em saber como serão meus próximos anos. Sinto perfeitamente dentro de mim que tudo poderá ser incrivelmente melhor do que nos anos que se passaram. Se bem que não podemos comparar nada que passou com nada que ainda está por vir. Tudo é imprevisível. Mas eu sinto uma perfeição insistente no meu futuro próximo, e só depende de mim que ele seja perfeitamente melhor do que esse momento de agora. Fico mais apreensivo com o dia de amanhã do que com o ano que vem, com os próximos meses, apenas por conta de situações nas quais me deixo levar, ou que deixo que aconteçam sem que eu faça algo ou tome algum tipo de atitude. E estranhamente parece que sinto que algo, ou alguém me protege de todos os males deste mundo, me purifica aos poucos, me solta, me liberta, me libera, me sopra no ar em rajadas limpas de vento. Sinto-me solto, dono de mim, dono de meus atos, dono de meus pensamentos mais lindos e mágicos. Só me questiono algumas sobre onde está o amor neste nosso mundo de hoje? As pessoas só pensam em pedras, palavrões, perversões, perdições. Enquanto eu penso diferente, penso em pétalas, perfeições, pessoas, presentes.

poema
pétalas, palavras, pronúncias
pistolas, pessoas, prenúncios
provas, pratos, prantos
prerrogativas, propostas
perdas, perdições, perversões
pêras, pirâmides, paisagens
passeios, paçocas, pássaros
pronto

sexta-feira, 16 de junho de 2006

Viver nesse mundo onde todos esqueceram o que realmente é amar ao próximo está cada vez mais difícil e sufocante. Esse mês presenciei uma passeata pela paz promovida pela sociedade organizada aqui em minha cidade. Considerei bastante louvável a iniciativa de todos. Balões brancos, discursos inflamados, a cidade praticamente parou e se uniu num sentimento mútuo de busca por dias melhores. E então veio o dia seguinte, e suas surpresas impregnadas em nossas rotinas e cotidianos. No dia seguinte, presenciei algo completamente oposto ao que tinha visto no dia anterior. Um pobre coitado havia roubado uma mulher dentro de casa, e saiu correndo desembestado pela rua, buscando fugir. Foi perseguido e aqui, logo abaixo da janela de meu apartamento, ele foi pego. Encurralado que nem um animal, quase linchado, praticamente alvo de toda ira popular, de olhares curiosos, de gente querendo motivos para alterar a rotina diária. Juntou gente ao redor do pobre infeliz, um homem baixo, de pele morena, descalço, barba por fazer, suado, de bermuda e camisa, praticamente a imagem viva da miséria humana. Chamaram a polícia, e quando apareceu a Força Especial, os policiais simplesmente chegaram intimidando, intimando, batendo, humilhando, fazendo pouco caso daquele ser humano perdido em seus rumos. Ele foi humilhado, espancado, e até spray de pimenta jogaram-lhe nos olhos, ele já algemado e sentado na calçada, esperando a condução que o levaria preso até a delegacia.E eu fiquei indignado, me perguntando se era isso mesmo que tinha que acontecer naquela manhã. E o que houve na manhã anterior? Toda aquela manifestação pela paz, onde foi parar? Policiais que humilham pessoas, mesmo que elas sejam marginais. Pessoas manifestando ódio, raiva, por uma pessoa que elas mal conhecem e que nem sequer fizeram mal a elas, apenas à pessoa que havia sido assaltada. Não sei realmente como caminha e para onde vai o mundo aí fora. Estou eu aqui, refugiado em meu pequeno universo, minhas atividades, meus trabalhos, vivendo meus dias mais amenos e despretenciosos, como nunca vivi antes em minha vida. Pessoas gostam de mim de maneira especial, ganho o carinho e o amor de pessoas que me tem como exemplo e me tem como porto seguro em suas vidas conturbadas. Aqui dentro, não me sinto só. Mas quando saio no mundo lá fora, sinto-me unicamente solitário, por achar que eu deva ser uma espécie em extinção, que sempre acredito no amor, na amizade, no companheirismo e nas pessoas. Sinto-me um anjo caído, sem as asas, impossibilitado de alçar vôos e buscar uma iluminação maior.

sábado, 6 de maio de 2006

Cada música nova que escuto me inunda com algum sentimento enriquecedor para a minha alma, e acaba gravando em mim o retrato de uma época que vivo e respiro. E fico impressionado como tem certas músicas que de repente grudam em meus ouvidos e não paro de escutá-la. Agora estou escutando o novo álbum duplo de Red Hot Chilli Peppers, Stadium Arcadium, e a canção que me pegou desprevenido dessa vez foi Desecration Smile, primeira faixa do álbum Mars, uma canção com uma batida consistente, uma letra poderosa e verdadeira. Isso acabou me fazendo pensar em situações e momentos em nossas vidas que quase acabam por nos destruir. Amores, pessoas, ações, palavras. Tudo ao nosso redor tem um potencial latente de nos destruir em questão de segundos, e desestabilizar tudo o que tentamos construir durante muito tempo. É preciso saber viver e saber amar as pessoas da maneira certa. Apesar de que nem tudo depende unica e exclusivamente de nossos atos, apenas interagimos juntamente com milhares de outras pessoas nesse universo vasto. E é justamente nesse universo vasto e amplo que podemos mostrar que somos capazes de ser felizes ou não. Não existe, no momento, outro lugar que possamos fazer isso. Tem que ser agora e aqui. Cada momento é único e não podemos desperdiça-lo. Por isso é sempre bom pensar nas situações que quase nos destruiram, que por segundos nos fizeram sentir que estaríamos sendo jogados num precipício. Esses versos que escrevi tem certa influência dessa música do Red Hot que estou escutando agora. Eu recomendo ouvir o novo álbum. Quase tão bom quanto Californication. Eu disse quase.

Espaço Sideral

Estou sozinho rodando dentro de mim mesmo
Amo uma pessoa nociva para meu coração
Parece morfina, parece chocolate com adrenalina
Ando em círculos em meus sentimentos de anilina

Uma celebração pertubadora em amar você
Uma serenidade terrível que me afoga
Sons e sorrisos que nunca são ouvidos e vistos
a não ser por mim numa frequência viciante

Seus abraços me desintegram em poeira dentro de mim
Ando em torno de mim mesmo procurando você
É óbvio e ensurdecedor a sua voz em meus pensamentos
E eu não paro de quebrar meus caminhos
para sempre seguir seus passos debaixo do sol

Goles de Coca-Cola entre sorrisos largados
fotos e imagens brincando em meu álbum
Me esforço em sorrir mesmo que algo me machuque
Dificil é constatar que mesmo nocivo
Você é meu lindo Amor envolvente
Sincero, forte, incrivel, entorpecente


Estou sozinho rodando dentro de mim mesmo
Você tem uma obscuridade madura
Tento terminar o que eu mesmo comecei
Mas é impossível voltar pelo caminho
quando olhamos para trás e vemos
que não existe mais caminho.

Por Ulisses Góes, em maio 2006

quinta-feira, 16 de março de 2006


Tempos difíceis, tempos conturbados, acordo sonolento, procuro me arrumar a tempo de poder resolver o que é preciso resolver, mas parece que o mundo ao meu redor travou em algum momento. Todos os dias estão meio iguais, meio similares, e creio que seja até por culpa minha. É difícil compreender o que ocorre com a gente algumas vezes, parece que ficamos inertes num momento estranho de nossas vidas, como que sentado no alto de um penhasco, apenas apreciando a paisagem ao longe, sem muito o que poder fazer de fato, aguardando novas instruções, ou esperando que algo nos sacuda e então a gente acorde e recobre a consciência, como o prenúncio de uma tempestade iminente. Situações fugiram ao meu controle esses dias, como avisos de um possível temporal. Discuti com um jovem amigo meu, que considero muito, e ele, pela idade turbulenta da adolescência mergulhada numa revolta absurda e sem qualquer motivo convincente, parece estar jogando nossa amizade pela janela e dizendo adeus. Ontem discuti com meu irmão, e creio que ele não tenha mais retorno, pelo caminho que está trilhando, se entregando à embriaguez completa, se matando aos poucos. Não reconheço mais ele, completamente um conhecido, uma pessoa a quem nem bom dia mais eu dou.

Esses dias estão nublados, ontem choveu, e hoje o tempo continua fechado. A tempestade está eo redor. Não sei mais realmente porque eu fico aguardando que a tempestade se vá e que o sol volte a brilhar. Eu tenho que realmente acreditar que minhas forças e determinação aparecem justamente neste momento de inércia na qual me encontro temporariamente. O mais incrível de tudo é que justamente nessa época de minha vida acontecem certos milagres, surgem anjos que parece que estão perto de mim para me proteger e não deixar que nada de errado aconteça em minha vida. São pessoas especiais, que nos enchem os dias de alegrias e sorrisos, por mais que os problemas estejam ao nosso redor nos pertubando os pensamentos e desnorteando nosso espírito. De um lado, percebo amizades que eu prezo muito se perderem e se distanciarem de mim de maneira triste. De outro lado, outras amizades que nos mostram que a vida é vivida e sentida a cada momento e feita de situações, pedaços saborosos de sorrisos, conversas, num crescimento maduro e sincero, sem medo de demonstrar o quanto se gosta de alguém. E percebo que minha vida é assim, esse constante sabor de um chocolate de uma doçura meio amarga. Talvez a tempestade não seja de todo ruim. Quem sabe ela sirva para te limpar um pouco mais e mostrar que você ainda encontrará forças no final para poder observar o mau tempo indo embora, se distanciando no horizonte, enquanto você do alto do penhasco, observa o céu abrir.

Chocolate meio amargo

eu amo você, mas você é como um sopro de ventania na imensidão
Não posso te abraçar e você não consegue escutar meu coração
eu quero você, mas você é como uma imagem nítida na tv
eu vejo tua beleza, porém você não enxerga o amor que tenho por você
eu busco você, mas você é como o sol raiando acima das casas
não posso me aproximar muito para não derreter as asas

eu sinto você como se fosse o mundo todo ao meu redor
uma rajada de vento, um programa de tv, um nascer do sol
Você é o significado completo para o sentido de minha vida
E tudo o que tenho é meu amor, minhas asas e meu coração
para buscar estar sempre mais perto de você
e fazer valer cada segundo intenso de minha respiração

meu amor por você é um salto na imensidão.

Ulisses Góes

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

Parecia até que eu estava lá, e realmente eu queria ter estado, presenciar de perto aquele show incrível, fabuloso, mágico, fantástico. As outras tournês do U2 nem ao menos houve a possibilidade de se acompanhar pela TV, além do que a última vez que o U2 veio ao Brasil foi com o POP Mart, um show que praticamente não faço idéia de como foi. Somente depois de lançar All That You Can't Leave Behind [2000] e How To Dismantle An Atomic Bom [2005], é que a banda resolveu trazer o Vertigo Tour para as terras brazucas. E dessa vez foi algo completamente diferente, mais envolvente, mais intenso. Apesar de ter assistido ao show pela tv, e já ter assistido ao DVD do show Live From Chicago por diversas vezes, poder acompanhar todo o evento proporcionado por Bono, The Edge, Adam e Larry foi algo como que um prêmio para quem não teve a oportunidade ou a impossibilidade de estar presente ao show. Momento inesquecível do show? Com certeza, o momento em que aquele jovem pernambucano de Caruaru subiu ao palco e soltou sua voz rouca para cantar junto com Bono. Para Victor [na foto acima, ao lado de Bono], um sonho plenamente realizado, e fico extremamente feliz por ele, pois em parte ele acabou realizando um sonho meu também, que sempre foi o de ir em show do U2. E lá estava aquele jovem feliz ao extremo, erguendo os braços ao alto, um pedaço de cada um de nós ali em cima, no palco, sentindo o gosto daquele momento, cada um como um pedaço daquele sonho ao vivo para todo país. Miss Sarajevo ainda ecoa em meus ouvidos, e o sorriso extasiante de Victor e a Declaração dos Direitos Humanos no imenso telão. Como não se emocionar com todo aquele público cantando num coro uníssono músicas memoráveis? Até minha mãe assistiu ao show e se emocionou ouvindo aquelas músicas. Mas infelizmente, tudo na vida é efêmero, até os melhores momentos passam, e cabe apenas a cada um de nós torná-los eternos em nossas memórias e nossos corações.

E você sente como ninguém antes
Você rouba bem debaixo de minha porta
E me ajoelho porque te quero um pouco mais
Eu quero muito do que você tem
E não quero nada que você não seja

Original of the Species - U2
Álbum How To Dismantle An Atomic Bom [2005]

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

E mais um show do U2 no Brasil que eu não terei o prazer de presenciar, por motivo de força extremas. Se fosse no Rio de Janeiro, podem ter certeza absoluta de que eu já estaria lá nesse momento, curtindo cada dia, aguardando o dia esperado do show e lançando comentários diários aqui em meu blog, como se fosse um correspondente jornalístico, transmitindo notícias de lá de dentro do front musical. Mas shows em São Paulo me inviabilizam de muitas maneiras e realmente fico impossibilitado de ir até a capital paulista. Mas eu tenho certeza de que ainda irei um dia ao show do U2, e postarei em meu blog num futuro próximo. Essa semana escrevi mais versos sobre amor, essa semana pensei mais na minha vida, e me vejo cada vez mais analisando e concluindo situações e momentos em minha vida, e parece que estou a planejar meus passos futuros de alguma maneira. Meu sonho maior sempre foi ser feliz ao lado de quem a gente ama de verdade, e em raros momentos de minha vida consegui isso. Há tempos atrás eu estaria feito um louco, correndo atrás desse sonho, passos desnorteados, olhos alucinados, coração desesperado. Hoje, talvez um pouco mais maduro, talvez um pouco mais marcado pelas batalhas diárias da vida, cheio de algumas cicatrizes, carregando agora um pequeno baú de experiências, não corro mais atrás desse sonho, com passos desnorteados, olhos alucinados ou coração desesperado. Eu apenas agora sonho ele, sentado num gramado, admirando o poente e as belezas que desfilam livres, sentindo meu coração pulsando numa adrenalina intensa. Eu sei agora exatamente quem eu sou, o que sou, como são definitivamente meus sentimentos e como conviver com eles de maneira positiva. Mas enfim, todo poeta sofre, e meu sofrimento ainda existe, só que agora um pouco menos amargo.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006

Eu tenho vários dons, e muitas vezes só descubro isso depois de usá-los. Tenho o dom de ser amigo, tenho o dom de perdoar, de persuadir de maneira positiva, tenho o dom de curar feridas internas, tenho o dom do ser otimismo. Muitos podem realmente vir a dizer que isso são apenas qualidades, mas eu acredito que hoje elas se tornaram dons especiais. E tudo porque o mundo involuiu, e regride na mesma velocidade em que você consegue pensar. Os valores se distorceram, as pessoas se dissimularam completamente, a Humanidade se perdeu num labirinto consumista, individualista, agressivo, pertubador. Por isso mesmo que eu digo que as qualidades ascenderam ao patamar de dons. Não é mais pra qualquer um saber perdoar. Perdoar se tornou algo iluminado, um poder que se eleva acima das pobres cabeças perdidas nas massas errantes e transitantes pelas vias expressas, se espremendo atônitas e aflitas pelas calçadas em busca dos segundos perdidos. Bom, se não se tem mais tempo para sorrir ou dar uma boa olhada num entardecer, com certeza todos tem tempo de ir ao shopping, se embrenhar pelas filas das compras, se anestesiar nas filas dos bancos. Isso é nosso mundo de hoje, infelizmente.

Aqui eu deveria estar falando de trivialidades, comentando sobre como foi meu dia, minha rotina sutil de levantar e deitar, comer e correr, pagar e trabalhar. Mas acabo sempre usando outro dom meu [o de escrever] para buscar o significado por trás de toda rotina, a filosofia por tras de cada gesto e cada atitude nossa. E aí transformo tudo num cataclisma poético, numa licença lírica de versos que fluem pela minha veia e mantêm meu corpo vivo e meu espírito pulsando. Meu segundo livro está praticamente pronto, os detalhes agora são mais técnicos e artísticos, e tenho certeza de que até antes de abril estarei lançando ele. Tenho o dom da paciência, mas sinto certa necessidade urgente em lançar logo esta minha nova obra, pois já tenho mais dois trabalhos prontos e finalizados. Tenho outro dom, o de sonhar sempre, até mesmo de olhos abertos. Sonhar de olhos fechados só mesmo para os exaustos das rotinas cansativas e diárias deste mundo desmbestado e perdido.

R.E.M.

Não enxergo a linha do horizonte
Estou atordoado
pelo asfalto que esquenta meus pés
e pelo amor que consome
este coração que se desfaz
em lágrimas que se evaporam
no Tempo antes que possam
tocar a Terra em beijos suicidas

Tudo parece um sonho
Onde nossos olhos brincam no escuro
Mas o dia avisa a claridade
E a ardência navega minha pele
Não enxergo vitórias nem glórias
Apenas vislumbro sua silhueta
Brincando e sorrindo ao meu redor

A estrada reflete em seus olhos
E tudo se confunde se funde e no fundo
Terra e Céu se afundam
Em nossas realidades oníricas
Tudo em mim flutua neste sonho

Asas rasgando cumulus e nimbos
E eu sendo açoitado pelos ventos
De meus pensamentos
Soprados de ti
Penhascos e abismos
Sussurros e suspiros
Sinto vertigens por teus sorrisos
Mas não é tempo de acordar
Nosso sonho não amanheceu ainda.

do livro À Sombra de Um Eclipse,
Ulisses Góes // a ser lançado
neste ano de 2006

terça-feira, 3 de janeiro de 2006

Durante muitos dias, na solidão de suas caminhadas sem destino certo por entre as plantações de cacau, o jovem dedicou todo o seu tempo na busca incessante pelo mico-leão dourado. Olhava atrás das pedras, pelas árvores, nos galhos dos cacaueiros, mas nada encontrava, a não ser a sua voz solta em ecos solitários pela mata. Às vezes ficava a se perguntar sobre o que realmente procurava. Era o momento da dúvida e da insegurança. Mas novamente algo se mexia por entre as folhagens, e o íntimo do jovem mais uma vez se agitava. Seus pensamentos sumiam, seus movimentos cessavam, e sua atenção se voltava na busca do pequeno habitante das matas. Ficava imóvel, inerte, na esperança de rever o mico. Quando percebia que sua espera era completamente inútil, sentava-se desanimado, e ficava a recordar da época em que havia trabalhado como voluntário em um projeto de uma ONG, que tinha por objetivo o equilíbrio sistemático entre áreas verdes e centros urbanos em diversas regiões do planeta. Lembrou de ter visto o mico-leão dourado incluído entre as espécies catalogadas como passíveis de extinção e que mereciam atenção especial por diversos órgãos do setor. Mais uma vez ruídos o despertavam de um transe reflexivo, e mais uma vez a agitação, a ansiedade, a busca, a angústia e o desespero por não encontrar absolutamente nada. Desesperado por não encontrar aquilo que tanto desejava, o jovem corria por entre as árvores, gritando os nomes das pessoas que um dia chegou a conhecer. Exausto, caía no chão, já ciente de que não procurava mais o mico, e sim, procurava alguém que viesse em seu socorro. Procurava pessoas. Procurava ajuda. Mas não encontrou ninguém, nem ao menos uma sombra, um vulto qualquer escondendo-se pelos vãos verdes da floresta largada.

E os dias eram nublados e cinzentos, e as noites eram escuras, de Lua e estrelas mortas. O jovem caminhava sem direção, apenas guiado pela sua imensa vontade de continuar vivo. Nunca mais viu o mico-leão dourado. Apenas pressentia sons, e sentia calafrios por causa disso. Lembrava-se do pequeno animal peludo sentado sobre as patinhas traseiras, sua cabecinha impaciente a olhar para todos os lados. E então experimentou continuamente, durante poucos segundos, o pulsar da vida. Era aquela mesma sensação momentânea de quando vira o mico. Uma sensação rápida, como uma gota d’água lançada num imenso deserto escaldante. O jovem não estava conseguindo reter essa gota por muito tempo mais, mas não desistia. Sabia que precisava insistir sempre, para que pudesse transformá-la em algo maior, um lago, um mar, um oceano. Mas o medo, a angústia e a solidão eram atribulações ainda presentes, tentando evaporar essa gota d’água. Tormentos cáusticos, cauterizando, convertendo o pulsar em escaras. As areias do deserto sugando uma gota d’água.

Sentindo o peso do cansaço causado pela longa jornada daquele dia, o jovem sentou-se à sombra de um Jequitibá. Descansava aos pés daquela imensa árvore, e pensava num modo de sair daquela situação, em como acordar de um pesadelo angustiante. Um pesadelo real, que o deixava cada vez mais acordado, vivendo numa realidade cruel e adversa. Meteu a mão no bolso direito de sua calça jeans surrada e encardida, e daí tirou sua carteira. Entre documentos, cartões de crédito e algum dinheiro, encontrou uma foto. Era uma foto de sua família. Seu pai, sua mãe, seus dois irmãos mais novos, e ele. Tinha quinze anos na época, e agora com vinte e um anos, o jovem tentava transpor a barreira do tempo, desmaterializar todos aqueles seis anos em que havia passado longe de sua família e de sua terra natal e voltar atrás. Acordar exatamente no dia em que aquela foto havia sido tirada.

Fechou os olhos então, e em poucos segundos estava revivendo um momento perdido no passado de sua vida.

Sentiu a brisa leve do mar assanhar seus cabelos castanhos, bem claros. Podia ver ao longe garotos brincando nas areias da praia. Levantou-se, aprumou o olhar, avistou seus dois irmãos entre os garotos. Ouviu alguém chamar seu nome. Sua mãe, um pouco mais distante, jogou-lhe um aceno de mão.

“Venha”, dizia ela, “Vamos tirar uma foto. Chame seus irmãos”. Ele tentava responder, mas não conseguia, apenas ficou parado, olhando sua mãe caminhar de volta pela praia. Seus irmãos continuavam brincando despreocupados naquela manhã ensolarada. Então, tudo ao seu redor ficou turvo, distorcido, e o que lhe parecia tão real desmanchou-se suavemente. As imagens de seu passado diluíram-se lentamente.

Lágrimas brotaram de seus olhos, rolando pelo seu rosto, e tocando silenciosas a terra na qual ele estava adormecido.A saudade pulsava forte dentro de teu peito. E foi justamente esse sentimento que o fizera decidir regressar para Itabuna. Era como uma espécie de chamado, uma voz distante, um som estranhamente familiar. Uma voz que se transformava num coro cheio de harmonia. Olhou a foto, tirada num belo dia de verão. Ouviu rugidos de trovões sobrevoando o céu nublado. A solidão apertou-lhe o coração. Aquela mesma solidão de cidade grande, que havia decidido enfrentar quando deixou sua terra natal, aquele pequeno mundo de cidade do interior, para ir buscar novos horizontes no progresso alucinado do Sul do país. Havia deixado seus quinze anos para trás, guardados na casa de seus pais, na rua onde havia crescido, na cidade onde havia nascido. O que viesse por agora guardaria em sua mochila pendurada em seu ombro. Ganhou a estrada, descobriu seu espírito aventureiro, seu sangue de peregrino, andarilho em busca de seus sonhos. Desvendou novos caminhos, pequenas outras trilhas por onde poderia caminhar. Ganhou encruzilhadas, e o direito de escolher o melhor caminho para si, mesmo que isso significasse a descoberta do erro. Outro rugido ecoou pelo ar. Agora, os caminhos estavam perdidos pela mata, escondido pelas ervas daninhas, e precisavam ser redescobertos. O jovem sabia que precisava reencontrar os caminhos. A foto permanecia em sua mão, enquanto tentava lembrar-se da última vez em que entrou em contato com sua família. Talvez uma terça-feira, ou uma sexta-feira, havia conversado pelo MSN com sua mãe, avisando que estava se preparando para ir passar o Natal com eles, o primeiro depois de seis anos longe de casa. No dia seguinte, numa conversa pelo videofone, a primeira também em seis anos, criou coragem e pôde então rever os rostos de seus pais, e seus irmãos já mais crescidos, já em plena adolescência. Quando desligou, não conseguiu conter as lágrimas de saudade, e estava realmente decidido a voltar. Iria novamente cair na estrada, dessa vez para retornar à sua terra natal, a terra das árvores dos frutos dourados.
 
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