sábado, 19 de novembro de 2005

Quando comecei a escrever esse poema, nessa última madrugada, tinha passado boa parte da noite conversando com meu amigo Sérgio, pelo msn. Ele, lá em Boston, e eu aqui em Itabuna, terras diferentes que parecem emergir de mundos antagônicos, universos erradicados em galáxias distantes. Tava inspirado pela letra da música do Audioslave, Doesn't Remind Me, do CD Out Of Exile e por algo escrito por um amigo meu em um fórum de discussão. Nesse Fórum, ele falava sobre amizade, solidão, a busca de nossa constante felicidade. Não deu outra. A necessidade incendiou-se dentro de mim, depois de um debate intenso sobre poesia com Sérgio, depois de ouvir uma música forte, depois de ler algo sincero e magnífico. Seriam ingredientes propícios sempre para meus escritos, minhas poesias? O que escrevi é tão nostálgico na essência quanto dramático no relato poético. Uma fuga, uma trágica perda, uma vontade de tentar esquecer aliada à impotência de conseguir alcançar esse objetivo. Um desabafo de quem perdeu tragicamente um jovem amigo. Mas qual foi minha surpresa e emoção, que me vieram lágrimas nos olhos, quando percebi que meu poema acabou se escrevendo sozinho, e se revelando por ele mesmo através de imagens de situações nunca vividas. A tal fuga para lembranças não existentes tinha sido em vão. Infelizmente, o efeito borboleta não estava funcionando.

Maverick na calçada

Olhares luminosos perdidos nas ruas espanholas
Os cabelos soltos e molhados diante do espelho
Martelando pregos e cantando melodias japonesas
Corro esquecido na amplidão dos estacionamentos
Tudo isso não me lembra você

Quebrando as cordas de uma guitarra esquecida
Solidão ensolarada sentada na beira da piscina
Brincando com a areia e limpando o suor na testa
Sanduiche de atum numa lanchonete movimentada
Tudo isso nada me lembra, muito menos você

Não consigo aprender o que tenho que esquecer
Sinto-me fraco e impotente embaixo do chuveiro
Saudade e água fria trazem de novo à tona
minhas lembranças e minhas lágrimas
Não consigo esquecer o que a vida me fez perder
Não há sabedoria suficiente ainda dentro de mim
Existem tentativas perdidas e choros insistentes

Dormindo docemente numa tarde fria e chuvosa
As letras miúdas nas legendas das fotos
Os cartões de embarques e os vistos nos passaportes
A calçada forrada de pedras simétricas e geométricas
Sentado no banco da frente de um Maverick
Nada disso realmente me lembra você

Não consigo aprender o que tenho que esquecer
Sou teimoso e deixo o passado me afogar
Não consigo esquecer o que a vida me fez perder
Não há forças suficientes dentro de mim
que façam eu me apegar a recordações
que nunca me farão lembrar do
verdadeiro Amigo que encontrei em você.

Ulisses Góes

domingo, 6 de novembro de 2005

Estou perdendo noites e me transformando em um ser virtualmente boêmio, me envolvendo em relações distantes, discutindo opiniões, vivenciando mais as pessoas atrás dos monitores do que mesmo nas ruas de minha cidade. E nunca me imaginei ouvindo rock gótico e punk cru. Nunca me imaginei escutando Nightwish, por influência de uma amigo meu que acabou me adotando como mano mais velho dele, e me pediu pra ser padrinho dele. Sempre me surpreendo como as pessoas acabam fazendo parte da vida da gente de alguma forma e acabam deixando suas marcas na gente, suas influências, numa troca recíproca de experiências. Depois de alguns sonhos meus espatifados e projetos que não deram em nada, me senti um pouco mais sozinho, mas no sentido de que parece que cada vez mais dependo apenas de mim pra poder girar as manivelas que movem meus sonhos. E fico ouvindo esses petardos do Green Day, no CD American Idiot, um retrato limpo e preciso de um país que é tão podre e cheio de defeitos como qualquer outro. Os estados Unidos sempre foram um pesadelo para todo o mundo, e depois de atentados, furacões, tempestades tropicais, os americanos percebem cada vez mais que são tão frágeis quanto qualquer outro país menos desenvolvido.

E as pessoas se apaixonam sempre por mim, e não consigo explicar como isso acontece, qual a química transcendental que me permeia, qual aura significativa de emoções me elabora a alma, para que pessoas tenham a sinceridade ativa de me dizer palavras de amor e de afeto. Música mais apropriada para essas palavras que escrevo é Wake me up when September ends, do CD novo do Green Day. O que move as pessoas são emoções e atitudes. Umas são movidas pelo coração, e a maioria pela razão crua, nascida do instinto cruel de sobrevivência. Se arrancar a pureza dos sentimentos e deixar a fúria das ações, o atrito das forças, sobra apenas um mundo sombrio de instintos e luta pela sobrevivência. Agora estou descartando sentimentos e escrevendo na fúria das palavras. Por isso estou ouvindo Dinho Ouro Preto ressucitar O Aborto Elétrico, uma das primeiras bandas de punk rock do Brasil com destaque no cenário nacional. E no final, me deparo com um mundo onde o amor é desesperador, quando não deveria ser. Um mundo onde os nossos sentimentos são sacudidos, e onde as pessoas vivem esmagando os sentimentos, estraçalhando as amizades, despedaçando os carinhos. E o que deveria ser a descoberta de sentimentos mágicos, acaba se transformando em desespero para entender algo que parece nos sufocar mansamente no meio do mundo moderno e sujo. Conclusão: estão abortando o amor antes mesmo que ele nasça dentro de você.

Love Song One
[Renato Russo]

Você me faz pensar demais
Sempre quando quero tentar
Ser só mais um que quer você
Ah! Não consigo entender
por que eu quero você
Não consigo entender

Você me faz deixar pra trás
tudo que faz lembrar
Como é viver sem ter você
Ah! Não consigo entender
por que eu quero você
Não consigo entender

Eu não sei mais voltar atrás
nunca deixei
quero parar de ser só
mais um que quer você
Ah! Não consigo entender
por que eu quero você
Não consigo entender

Você me faz pensar demais
Sempre quando quero tentar
Ser só mais um que quer você
Ah! Não consigo entender
por que eu quero você
Não consigo entender

Faixa do novo CD "MTV Especial
Aborto Elétrico", de Capital Inicial
 
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