domingo, 27 de junho de 2010

A criação de tudo através do princípio do silêncio. Os dedos flutuando no espaço por ondem fluem as palavras. O turbilhão de idéias ou a inércia de calmarias, enquanto tento emparelhar mundos ou separar universos. Uma prosa propositalmente desorientada, intencionalmente corrompida em partes misteriosas e obscuras, como um poema implorando para ser lido nas entrelinhas. Experimentando particularidades ambiciosas, melodias aos milhares no embaralhamento das palavras. Pedaços lançados numa aleatoreidade traçada desde o início. Isso é possível? A revolução das mentiras, a evolução das frases dissimuladas, o frescor da falsidade que acaricia a leitura das faces expostas. Escrever para as massas, obter conquistas e glórias, mudar o rumo do jogo, amassar o óbvio e o lugar-comum. Reinventar-se e desorientar novamente novas mentes. Subverter a vertente antes que alguém tente. Olhar para a frente e escrever sobre a atmosfera que te persegue, sobre o estranho contaminado pela perversão virulenta, sobre os discursos cuspidos nas calçadas. Reverter tudo e escutar, através do princípio do silêncio de tuas palavras, a poesia da paixão que te domina e quer transformar o teu mundo numa utopia de romantismos devastadores e lágrimas tsunâmicas. Libertar o teu próprio sentido de desconstrução através do que você escreve. Liberar o florescer dos teus sentidos e vontades aparentemente direcionados. Levantar as mãos e descobrir que o céu não está em lugar nenhum, e que existe tão somente a nossa fome de enxergar a rotatividade dos dias e noites, um mundo alternado em azul e preto.

Poema em prosa escrito por Ulisses Góes

Imagem acima extraído da capa do álbum
Heaven is Whenever [2010], da banda The Hold Steady

sábado, 26 de junho de 2010

Sim, vivemos a História todos os dias. E não estou aqui para comentar sobre o pão e circo que nos assola a cada 4 anos de nossas vidas. Não quero cometer o equívoco de cair no lugar-comum da unanimidade. Quero falar e comentar sobre as coisas que tocam meu coração da forma mais intensa possível. Seria possível então eu falar sobre as palavras de José Saramago enquanto escuto Bob Dylan? Acredito que sim, pois eu sempre deixo as palavras fluirem de meus dedos na hora em que elas realmente devem fluir. Eu poderia estar escutando Michael Jackson, já que ontem completou-se 1 ano desde sua morte estranha e sem sentido. Mas o contexto não se encaixa definitivamente. Deixemos o Rei do Pop descansar em paz após passar pelo nosso universo carregando seus carmas pesados e experimentando uma vida conturbada. No momento, prefiro enxergar minha realidade escutando a voz cheia de blues de Bob Dylan.
O grande escritor português morreu, foi homenageado, cremado mas não posso deixar esse momento de nossa História passar em branco, até porque Saramago, pela sua maneira incrível de escrever, me influencia na minha forma de escrever, de tentar contar algo. Ele desenvolve seu universo de personagens e fatos de uma forma que tudo parece fluir consistente e único, sem separações, como se os universos, tanto o do leitor como o do livro, se fundissem, misturando suas verdades e seus acontecimentos. A obra de Saramago é única, e só me entristece o fato de que a Humanidade ainda é limitada demais no âmbito do conhecimento para entender a perda que tivemos essa semana. Saramago é uma dessas pessoas que vem ao mundo para nos mostrar somente que a Humanidade ainda não está preparada para certos níveis de conhecimento e sabedoria. Ela própria se limita em fronteiras de ignorância e demência, tal qual os romanos telespectadores nas arenas do antigo Império Romano, extasiados pelo espetáculo proporcionado pelos gladiadores matando uns aos outros. Os imperadores sabiam muito bem como drogar o povo e os fazerem esquecer dos problemas que os afogavam numa vida miserável.
A morte de Saramago não serve apenas para nos mostrar um passado cruel e lamentável. na verdade, ele serve para mostrar nosso presente contamporâneo que se repete de maneira atualizada e ridícula. É fato realmente que o futebol é o ópio de um povo, não apenas o povo brasileiro, mas de toda uma Humanidade, extasiada pelo espetáculo proporcionado pelos "gladiadores" nas arenas de nosso tempo. Eles estão preparados para isso realmente, pois é até onde eles conseguem chegar e até onde seus olhos conseguem ver. É o limite de suas próprias fronteiras intelectuais e humanas. E eu, enxergando a morte de uma grande pessoa dotada de uma sabedoria fabulosa, tenho que olhar para trás e lamentar essa Humanidade, que infelizmente não consegue enxergar para além das fronteiras que criaram para ela.

"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar"
~ José Saramago [1922-2010]

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Eu vivo ciclos de momentos em minha vida onde, apesar de aparentemente parecidos, nenhum se iguala ao outro. Cada um é definido por uma sequência de situações e experiências que as tornam únicas. Cada um desses ciclos me trouxe diferentes gostos amargos e diversos níveis de sofrimento e drama, além de diferentes maneiras de amar. O amar solitário, o amar cegamente, o amar possessivo, o amar desesperado, o amar contido, o amar acompanhado, o amar amadurecido. Cada um desses ciclos de minha vida abriu minhas janelas da percepção de minha personalidade, mostrando ora minha forma sincera e romântica de amar, ora meus demônios interiores prestes a soltar-se perigosamente. Cada ciclo, uma batalha cruel e silenciosa, uma guerra muitas vezes desigual onde a derrota mostrava toda minha vulnerabilidade e fraquezas. Nunca imaginei que erraria tanto, que choraria tantas dores, que tropeçaria em caminhos que imaginava tão seguros.
Mas houve surpresas saborosas e incríveis em minha vida, não posso negar isso. A amizade e o companheirismo veio de onde eu nunca esperava, vitórias simples que me encheram de alegria, aprendizados que me amadureceram sem que eu sequer percebesse. Agora estou aqui, com essa modesta bagagem imensa de experiência e conhecimento, que me parece suficiente para eu saber agora por onde caminhar e quais decisões tomar daqui pra frente. Eu disse bagagem imensa, mas eu estou ciente de que tudo que trago dentro de mim ainda não é o suficiente. Ainda não tão experiente assim, tenho muito chão pela frente e ainda tenho muito o que aprender nessa vida. Escrevo durante as madrugadas enquanto tomo goles de café, e penso no momento que estou vivendo agora. São decisões que terei de tomar, e sei que essas decisões agora farão minha vida tomar uma forma totalmente nova e nunca antes experimentada por mim. Eu sei que esse ano é decisivo, eu sei que busco realizar projetos e tornar reais meus sonhos mais sinceros. Não posso garantir, mas talvez eu esteja fazendo meus últimos trabalhos gráficos aqui, talvez eu esteja me preparando, mesmo sem saber exatamente, para mudanças desafiadoras. Espero ansioso e esperançoso pelo resultado da Bolsa da FUNARTE. Eu quero acreditar que conseguirei, eu preciso conseguir, é minha maior chance de sentir essa mudança radical que parece cada vez mais próxima. Não há nada, atualmente, que eu deseje mais no mundo do que EU dar certo. Sentir minha vida dar certo da maneira como sempre pensei e poder respirar os novos ares que sempre sonhei. E ser escritor reconhecido pelos meus livros é algo que sempre sonhei.
Ontem o Brasil fez seu primeiro jogo na Copa do Mundo 2010, vencendo a Coréia do Norte por 2x1. Mas isso pouco importa pra mim. Hoje dei ótimas risadas vendo o descontraído Tiago Leifert no programa Central da Copa falando sobre o fenômeno mundial da hilária campanha "CALA BOCA GALVAO" disseminada no Twitter e que fez Galvão Bueno dar boas risadas e levar na esportiva. Assisti diversas conferências da E3 2010 ao vivo pela internet sobre os próximos lançamentos de jogos previstos para esse ano e para 2011. Mas, sinceramente, nada disso é importante para mim hoje. Ciclos estão chegando ao seu fim inevitável, para dar lugar a algo novo que ainda não consigo definir, mas que tenho certeza é o que estou esperando há muito, muito tempo. Desde que eu era criança.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Uma sensação incômoda me invadiu o espírito ontem. E eu sei o que motivou o aparecimento dessa sensação. Algo como um gosto amargo de desânimo por uma derrota que provavelmente você não queria acreditar que ocorreria. Senti isso uma vez, quando participei pela primeira vez de um concurso de poesias e acabei amargando um 7º lugar com um poema intitulado Linha 147, inspirado no violento assalto e sequestro do ônibus da Linha 174 ocorrido em junho de 2000 no Rio de Janeiro. A inversão dos números no título do poema foi acidental e acabou escapando de minha revisão final. Esse foi um dos raros trabalhos líricos onde minha inspiração foi a violência urbana e o caos social vivido pela sociedade contemporânea. Nesse ano, amarguei o gosto da derrota. No ano seguinte, participei novamente do mesmo concurso e então vivenciei o sabor da vitória. O tema desse concurso era o escritor Jorge Amado, e então venci o concurso com o poema Oração para Amado, uma homenagem minha para essa grande personalidade do mundo literário. O fato estranho e marcante dessa minha vitória é que nesse mesmo ano, em agosto, Jorge Amado acabou falecendo em Salvador. E eu estava ao lado de sua casa no dia de sua morte.
Eu sempre fui uma pessoa obstinada e decidida com relação aos meus reais objetivos, e esse concurso me fez comprovar mais ainda esse lado de minha personalidade. Não me entreguei após a derrota, apesar do desânimo evidente em meu semblante, e tentei novamente, obstinado e incansável. Não desisti e fui recompensado com justamente aquilo que eu mais queria. É o que acontece quando acreditamos naquilo que criamos e que trazemos para esse mundo. Agora estou vivenciando tudo isso novamente. A batalha constante, o desafio, a imprevisibilidade do resultado, a possível derrota, a tão sonhada vitória, a queda, o desânimo, o novo impulso e o chamado para uma nova batalha. Parece que nossa vida aqui se resume a essa linha de acontecimentos. No meu caso, existem momentos claros em que respiro tudo isso, a expectativa de vitória e o sentimento de derrota, e vice-versa. Agora eu começo a me questionar se estou sendo obstinado o suficiente para as conquistas que desejo, ou se me falta mais determinação e força de vontade para seguir em frente e desenvolver ainda mais meu trabalho literário. Tudo isso dentro de mim são incertezas e incógnitas suspensas. A única certeza impregnada em mim é que tenho que continuar escrevendo sempre e buscar minhas vitórias, não importa o quão amargo seja o sabor da derrota.

oração para amado

Eu estou vestido com as palavras
da literatura de Jorge
Armado com o que há de Amado
Para que meus versos
mostrem tua prosa e teus reversos
teus escritos feitos e teus feitios
e que ninguém imagine tua pessoa
apenas como nome de rua em curso
título de casa, referência de concurso.

Eu estou vestido com as palavras
da literatura de Jorge
para sentir seu amado mundo
presente pulsando vivo
nos feitos defeitos e desfeitos
dos coronéis e jagunços
nas safadezas façanhas e facetas
de Gabriela Tereza e Tieta
na Flor faceira e dissimulada
nos passos largados na praia
da molecada abandonada
na caçada cruel da emboscada
no caçuá carregado pela mão calejada
no cacau na ponta do biscó
na colheita e na empreitada

Eu estou vestido com as palavras
da literatura de Jorge
para derramar teus cabelos brancos
por Itabuna Ilhéus Salvador Paris
e mostrar todo o seu universo amadiano
guardados no lirismo destes versos que fiz.


Por Ulisses Góes
Poema vencedor do XI Concurso
Regional de Poesias Euclides Neto
Ilhéus ~ Bahia
 
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