sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Há algum tempo atrás eu escrevi um conto onde o personagem principal estava em conflito intenso com o mundo à sua volta. No decorrer da história, descobria-se que ele era um sequestrador que mantinha um jovem refém em seu poder no meio de uma rodovia deserta. Entretanto, ele, o sequestrador, tinha a estranha sensação de que estava sendo constantemente observado por centenas de olhares curiosos e atentos, e em determinados momentos, tinha quase certeza de estar ouvindo vozes em sussurros ao seu redor. Depois de dirigir um maverick por uma rodovia secundária estadual, ele podia achar natural que estivesse cansado, exausto e, por isso mesmo, poderia estar tendo surtos estranhos e momentâneos, resultado do stress da situação na qual estava envolvido: um sequestro. Porém, as sensações tornavam-se cada vez mais claras e insistentes, intermitentes, nervosas e constantes.
Na época, eu estava escrevendo diversos contos, e experimentava um pouco de uma prosa nervosa e cinematográfica. Situações intensas, rápidas, dolorosamente poéticas. Nesse conto do sequestrador, eu sabia, a princípio, o que se passava com ele. Imagine então que você é o sequestrador. E se, de repente, no meio de sua vida, justo quando você está vivendo uma situação pertubadora, você começasse a perceber que era um personagem fictício de um filme? Qual seria realmente sua reação? Não cheguei a terminar este conto, mas a idéia ficou em meu íntimo, guardada, esperando sempre o momento de ser finalizada.
Então, recentemente, descobri um fabuloso seriado na HBO chamado Life On Mars, que relata a história de um policial britânico que sofre um acidente nos dias atuais, e repentinamente acorda nos anos 70, mais precisamente no ano de 1973. Ele fica confuso, pertubado a princípio, tentando entender o que está acontecendo com ele. E aos poucos, no decorrer dos episódios do citado seriado, ele vai descobrindo que pode estar em coma, em decorrência do acidente sofrido. Porém, tudo é tão confuso e aparentemente tão real, que ele tem a sensação de ter voltado no tempo e acordado naquela época em específico.
Não tive dúvidas. Primeiro, lembrei rapidamente de meu conto escrito há tempos atrás, e que tem uma semelhança contextual de confusão do personagem com o universo no qual ele está inserido. Logo em seguida, eu já tinha certeza de que tinha gostado, e muito, do seriado. É o tipo de história que me fascina, esse mistério criativo e original de contar uma história buscando novas diretrizes para o enredo. utilizar a situação do acidente e do Coma vivido pelo personagem para inserir toda uma possibilidade de histórias é realmente formidável. A propósito, o título do seriado faz alusão à uma música de David Bowie, "Life On Mars", de 1973, que tocava na rádio no momento em que o personagem Sam sofre o acidente. Nada mais original e insólito do que essa licença poética e referência musical. É um dos seriados lançados recentemente pela HBO que eu realmente recomendo a todos, para fugir um pouco da obviedade dos grandes seriados [24 Horas, Smallville, Lost, Heroes] mais vistos na TV atualmente.
Enquanto isso, o personagem do meu conto continua ainda sem saber como sua própria história termina. Quem sabe eu ainda termine ela por esses dias.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Não se sinta sufocado com a profusão de idéias, nem se deixe intimidar com a sensação de falta de ar ao tentar buscar oxigênio ao seu redor. O recinto pode até parecer diminuto, mas os pensamentos são imensos, apesar de parecerem submersos. Faz tempo as sirenes soaram o ensurdecedor sinal de "perigo iminente"े. Mas você, completamente afogado na sonoridade de suas mp3 de seu ipod, não escutou o chamado que o poderia salvar. Já era tarde, e não havia mais razão para colocar aquela máscara no rosto. Depois de inalar todo aquele ar impregnado de partículas poderosas, seu cérebro agora rodopiava ferozmente em um furacão de idéias. Seu sangue adrenalizado, sua cabeça produzindo todo tipo de palavra, imagem, som. Não havia mais qualquer tipo de retorno, e o processo era completamente irreversível. Você já estava contaminado. E todas as verdades do mundo estavam prestes a se descortinar completamente diante de seus olhos. E você começaria, então, a entender que não havia mais razão plausível para usar aquela máscara.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Onde está a verdadeira violência e o incentivo à luta armada entre jovens, crianças e adolescentes? Estaria aqui no Brasil, sob a forma velada e disfarçada de um jogo online, onde garotos se divertem virtualmente de mocinho e bandido? Ou estaria ela exposta abertamente nas terras do Oriente Médio, ao norte de Bagdá, pelo grupo Al-Qaeda, que treinar crianças para operações terroristas? essa pergunta poderia ser feita sem medo algum para a Justiça brasileira, principalmente para o Senhor "excelentíssimo" juiz Carlos Alberto Simões de Tomaz, 17ª Vara Federal da Seção Judiciária do Estado de Minas Gerais, autor da lei polêmica que proíbe a venda dos jogos CS e Everquest aqui no Brasil.
Sinceramente, a mente humana tem uma complexidade que é dispensável em alguns casos. Chega a ser hilária e ridícula a atitude "sensata" do Sr. juiz, em querer proibir a comercialização de um jogo que, segundo ele, "trazem imanentes estímulos à subversão da ordem social, atentando contra o estado democrático e de direito e contra a segurança pública, impondo sua proibição e retirada do mercado". Ora, Sr. Juiz, faça-me o favor! Você quer algo mais subversivo do que a corrupção dos políticos brasileiros? Poderia ser jogada na cara do Sr. Juiz fatos mais aterradores e que seriam verdadeiros atentados contra o tal estado democrático e de direito e contra a segurança pública, como a miséria e a fome que passam milhares de crianças e suas famílias, sobrevivendo nas periferias e favelas, onde a verdadeira violência [essa sim] deveria ser combatida e proibida por você e toda a Justiça brasileira!
Essa justiça brasileira, e o sr. Juiz Carlos Alberto poderiam e deveriam assistir aos trechos dos vídeos apreendidos pelo comando americano no Iraque, e que foram apresentados à imprensa nesta semana. Eles mostram crianças com idades entre 10 e 15 anos empunhando armas de todos os tipos: pistolas, kalachnikovs, metralhadoras PKM. Usando camisas de futebol, elas têm seus rostos tapados por tocas negras. Em um trecho do vídeo, as crianças bloqueiam um ciclista em uma barreira e o forçam a ficar de joelhos com uma pistola apontada contra sua cabeça. Em outra parte, as crianças aprendem a se movimentar entre muros em ruínas, tomam posição em um palmeiral antes de atacar uma casa e de aprisionar seus ocupantes, sempre monitorados por homens adultos encapuzados.
Essa é a verdadeira violência que está sendo ensinada e incentivada entre crianças e adolescentes, lá no Oriente Médio. Isso, sim, deve ser combatido de maneira enérgica e decisiva por todos nós, não importa onde estejamos. Devemos mostrar nosso repúdio a esse tipo de situação proporcionada pela Al-Qaeda. E mostrar para a Justiça brasileira que ela está combatento o inimigo errado aqui no Brasil, com atitudes completamente ineficazes.
 
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