segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Rápido, escroto, escatológico

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Sim, ainda tenho muito a dizer, muito a escrever, e pelo visto o nosso mundo contemporâneo parece condensar nosso tempo o máximo que pode, minimizando, encapsulando e comprimindo todos os nossos objetivos, metas, desejos e anseios em espaços temporais cada vez mais reduzidos. Talvez seja por isso que as pessoas façam tudo de maneira apressada ou exagerada, pois elas tem a sensação de que não há mais tempo a perder, nem podem esperar por mais nada, nem por elas mesmas. Estamos nos afogando em um mundo com cada vez mais informações a serem assimiladas, conhecimento a ser absorvido e processado em nossos cérebros, e tudo num espaço que parece ficar menor do que o Bóson de Higgs, a chamada partícula de Deus, como foi apelidada pelos cientistas. Estamos sobrevivendo das migalhas deixadas pelo relógio do nosso tempo. Todos os nossos valores, todos os nossos amores, nossos sofrimentos, nossas descobertas, nossas vontades, tudo sendo reduzido a momentos curtos, quase ínfimos, que se perdem nas lembranças do dia anterior.
Artistas sendo descobertos ontem e lançando biografias amanhã. Um oceano de músicas, livros, filmes formando um turbilhão efêmero de fama momentânea para em seguida se tranformar no mar do esquecimento, com milhares de versos, páginas, palavras e cenas boiando esquecidas por 7 bilhões de seres que parecem não fazer a menor ideia do que estão fazendo neste mundo. Eu acordo todos os dias e apenas vejo a banalização da idiotice, a disseminação da estupidez e a valorização da escrotidão humana. Concordo que em nosso mundo não existem santos, mas a humanidade está valorizando os demônios. Sim, o mundo reduz nosso tempo, e as pessoas individualizam suas ações, escandalizam suas palavras e se tornam profanos escravos de seus demônios interiores. Está na moda ridicularizar os outros, tornou-se normal matar as pessoas pelos motivos mais banais, tornou-se lei seguir seus instintos mais desumanos e agir de acordo com os valores mais deturpados possíveis. Esse é nosso mundo escatológico, este mundo que te desafia a se manter vivo e pensar cada vez mais rápido a cada dia que sangra silencioso nessa sua rotina entorpecente.

Diário de um Astronauta

Todos os dias eu acordo de paraquedas
com um gosto dormente de nostalgia na boca
o dia se rasga numa manhã sedosa
enquanto eu tiro meu capacete
e respiro toda a putaria rotineira
impregnada no ar venenoso deste mundo

Caminho descalço até janelas abertas
enxergo o sol sangrando dourado e suave
sinto o leve odor agridoce da rotina que exala
como um gás entorpecente um odor indecente
preparando as pessoas para "batalhas diárias"

Monitoro silencioso esse mundo antropofágico
de compartilhamentos e de curtições
onde as bruxas estão à solta caçando a si mesmas
Passeatas explodem como jardins pelas praças
Estradas cheirando a sangue e gasolina
A morte banalizada, doce como açúcar
Os choros de lágrimas batizadas com morfina
tudo fluindo intenso em veias de adrenalina

Observo os satélites riscando o infinito escuro
bombardeando com sequências dementes de imagens
os marginalizados e os estúpidos
sorrindo e gritando nas arquibancadas dos estádios

Sinto um abalo na força
interceptaram meu sinal poético
Fim da transmissão...

por Ulisses Góes,
em janeiro 2012


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