sábado, 26 de junho de 2010

Ensaio Sobre a Cegueira dos Outros

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Sim, vivemos a História todos os dias. E não estou aqui para comentar sobre o pão e circo que nos assola a cada 4 anos de nossas vidas. Não quero cometer o equívoco de cair no lugar-comum da unanimidade. Quero falar e comentar sobre as coisas que tocam meu coração da forma mais intensa possível. Seria possível então eu falar sobre as palavras de José Saramago enquanto escuto Bob Dylan? Acredito que sim, pois eu sempre deixo as palavras fluirem de meus dedos na hora em que elas realmente devem fluir. Eu poderia estar escutando Michael Jackson, já que ontem completou-se 1 ano desde sua morte estranha e sem sentido. Mas o contexto não se encaixa definitivamente. Deixemos o Rei do Pop descansar em paz após passar pelo nosso universo carregando seus carmas pesados e experimentando uma vida conturbada. No momento, prefiro enxergar minha realidade escutando a voz cheia de blues de Bob Dylan.
O grande escritor português morreu, foi homenageado, cremado mas não posso deixar esse momento de nossa História passar em branco, até porque Saramago, pela sua maneira incrível de escrever, me influencia na minha forma de escrever, de tentar contar algo. Ele desenvolve seu universo de personagens e fatos de uma forma que tudo parece fluir consistente e único, sem separações, como se os universos, tanto o do leitor como o do livro, se fundissem, misturando suas verdades e seus acontecimentos. A obra de Saramago é única, e só me entristece o fato de que a Humanidade ainda é limitada demais no âmbito do conhecimento para entender a perda que tivemos essa semana. Saramago é uma dessas pessoas que vem ao mundo para nos mostrar somente que a Humanidade ainda não está preparada para certos níveis de conhecimento e sabedoria. Ela própria se limita em fronteiras de ignorância e demência, tal qual os romanos telespectadores nas arenas do antigo Império Romano, extasiados pelo espetáculo proporcionado pelos gladiadores matando uns aos outros. Os imperadores sabiam muito bem como drogar o povo e os fazerem esquecer dos problemas que os afogavam numa vida miserável.
A morte de Saramago não serve apenas para nos mostrar um passado cruel e lamentável. na verdade, ele serve para mostrar nosso presente contamporâneo que se repete de maneira atualizada e ridícula. É fato realmente que o futebol é o ópio de um povo, não apenas o povo brasileiro, mas de toda uma Humanidade, extasiada pelo espetáculo proporcionado pelos "gladiadores" nas arenas de nosso tempo. Eles estão preparados para isso realmente, pois é até onde eles conseguem chegar e até onde seus olhos conseguem ver. É o limite de suas próprias fronteiras intelectuais e humanas. E eu, enxergando a morte de uma grande pessoa dotada de uma sabedoria fabulosa, tenho que olhar para trás e lamentar essa Humanidade, que infelizmente não consegue enxergar para além das fronteiras que criaram para ela.

"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar"
~ José Saramago [1922-2010]

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