
Na época, eu estava escrevendo diversos contos, e experimentava um pouco de uma prosa nervosa e cinematográfica. Situações intensas, rápidas, dolorosamente poéticas. Nesse conto do sequestrador, eu sabia, a princípio, o que se passava com ele. Imagine então que você é o sequestrador. E se, de repente, no meio de sua vida, justo quando você está vivendo uma situação pertubadora, você começasse a perceber que era um personagem fictício de um filme? Qual seria realmente sua reação? Não cheguei a terminar este conto, mas a idéia ficou em meu íntimo, guardada, esperando sempre o momento de ser finalizada.
Então, recentemente, descobri um fabuloso seriado na HBO chamado Life On Mars, que relata a história de um policial britânico que sofre um acidente nos dias atuais, e repentinamente acorda nos anos 70, mais precisamente no ano de 1973. Ele fica confuso, pertubado a princípio, tentando entender o que está acontecendo com ele. E aos poucos, no decorrer dos episódios do citado seriado, ele vai descobrindo que pode estar em coma, em decorrência do acidente sofrido. Porém, tudo é tão confuso e aparentemente tão real, que ele tem a sensação de ter voltado no tempo e acordado naquela época em específico.
Não tive dúvidas. Primeiro, lembrei rapidamente de meu conto escrito há tempos atrás, e que tem uma semelhança contextual de confusão do personagem com o universo no qual ele está inserido. Logo em seguida, eu já tinha certeza de que tinha gostado, e muito, do seriado. É o tipo de história que me fascina, esse mistério criativo e original de contar uma história buscando novas diretrizes para o enredo. utilizar a situação do acidente e do Coma vivido pelo personagem para inserir toda uma possibilidade de histórias é realmente formidável. A propósito, o título do seriado faz alusão à uma música de David Bowie, "Life On Mars", de 1973, que tocava na rádio no momento em que o personagem Sam sofre o acidente. Nada mais original e insólito do que essa licença poética e referência musical. É um dos seriados lançados recentemente pela HBO que eu realmente recomendo a todos, para fugir um pouco da obviedade dos grandes seriados [24 Horas, Smallville, Lost, Heroes] mais vistos na TV atualmente.
Enquanto isso, o personagem do meu conto continua ainda sem saber como sua própria história termina. Quem sabe eu ainda termine ela por esses dias.